O rádio não morre, se transforma

05/07/2012 03:25

Matéria publicada originalmente no caderno MAGAZINE, do Jornal O TEMPO de 01 de julho de 2012
(clique aqui para ler toda a matéia)
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Em 7 de setembro, o rádio brasileiro completa 90 anos de atividade. Para comemorar o centenário da independência do Brasil, o presidente Epitácio Pessoa escolheu a data, na qual fez um discurso que chegou aos poucos que tinham um aparelho. De lá pra cá, as transformações foram constantes, tanto na programação, de início educativa e que depois abraçou a cultura de massa com a entrada da publicidade, quanto na tecnologia, com a chegada da FM e dos receptores móveis.

Mesmo com novos meios de comunicação que chegaram posteriormente, boa parte do público continua fiel a ele. Isso explica a longevidade de dois programas da rádio Inconfidência. Na FM, "Bazar Maravilha", comandado pelo jornalista Tutti Maravilha, completa 25 anos em 29 de julho, e "A Hora do Fazendeiro", na AM e em ondas curtas, está no ar há 75 anos.

Uma das razões para sua longevidade pode estar na relação entre ouvinte e comunicador. No "Bazar", é o próprio Tutti quem atende os telefonemas de pessoas que pedem músicas ou querem concorrer a ingressos para espetáculos. Em "A Hora do Fazendeiro", a apresentadora Tina Gonçalves, que divide o microfone com Cristiano Batista, apresenta o programa há mais de quarenta anos.

"O locutor é um amigo de quem ouve. O rádio tem o que nenhum outro veículo tem: emoção. As pessoas, mesmo as que têm um MP3 com várias músicas, sentem falta disso em determinado momento. Por isso acabam voltando ao dial. E é por isso que o rádio não morre", analisa a professora e jornalista Magaly Prado, autora de "História do Rádio Brasileiro" (editora Livros de Safra, 488 págs. R$ 75).

Magaly afirma que a telefonia móvel e computadores possibilitaram a manutenção e transformação do rádio. "Os celulares estão saindo com rádios de fábrica. E, pela internet, dá pra ouvir qualquer emissora, esteja você onde estiver". Segundo ela, algumas características do mundo contemporâneo fazem com que o rádio vá se mantendo como veículo importante. "Todo mundo fica bastante tempo no carro, às vezes ouvindo um CD. Mas, quando elas cansam das mesmas músicas, elas vão sintonizar o rádio", diz ela.

Trânsito infernal. Tutti Maravilha não tem dúvidas disso. "Sei que grande parte da minha audiência está me ouvindo no carro, geralmente em um trânsito infernal. Tento dar leveza ao dia de quem me ouve. Eu sou bem-humorado e tento colocar isso no ar", explica o jornalista, revelando que o programa chegou ao outro lado do mundo por força da internet. "Recebo e-mails de brasileiros que estão em outros países e me ouvem lá no computador. A gente faz o programa e, por essas correspondências, sabe para onde ele vai".

Implantado em 1983, quando a emissora, que pertence ao governo de Minas, colocou na FM uma programação com foco total na música brasileira, o "Bazar Maravilha" saiu do ar quatro anos depois porque o então governador Newton Cardoso decidiu reformulá-la. Mas em 1991, com a reeleição de Hélio Garcia para o comando do Estado, Tutti retornou à Inconfidência e, desde então, ininterruptamente, ocupa a frequência com sua personalíssima verve comunicativa.

"A audiência é fiel. Existem pessoas que me ligam tanto para falar sobre coisas referentes ao programa quanto para dizer que acabaram de chegar de Montes Claros e que vão me mandar um presente. A gente estabelece um companheirismo", relata.

E essa proximidade de Maravilha com os ouvintes tem passado de geração para geração. Um dos quadros do programa, "Coisa de Comadre", no qual são apresentadas duas músicas de Elis Regina, mostra que o hábito de ouvir o "Bazar Maravilha" tem passado de pai para filho. "Tomei consciência de uns tempos pra cá de que jovens, que nem eram nascidos quando ela morreu, começaram a ouvir Elis por causa desse quadro no programa. Muitas pessoas chegam e me dizem isso. Acho que o rádio tem esse poder, de atravessar gerações. Os pais ouvem e depois os filhos começam a ouvir também", constata.

No próximo dia 29, o programa deve ser exibido fora do estúdio, com a participação de vários convidados. Além disso, ele organiza uma exposição de fotos que os ouvintes tiraram com ele durante esse período. "Minha cara não é muito vista, mas as pessoas, incrivelmente, sabem quem eu sou e sempre pedem pra tirar foto comigo. Em evento que envolve música, então, é uma loucura.
E é por causa dessas pessoas que permaneço fazendo o que gosto há tempos".

MIS/ DIVULGAÇÃO
Com seus programas de auditório, a Rádio Nacional sacramentou a presença do veículo no país a partir da década de 1940

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