Onde termina a ficção pornô e começa a "vida real" na cama?

19/08/2012 13:26
Sexo .Movimento Make Love Not Porn alerta que performance sexual se espelha em filmes pornográficos
Para ativista, os casais devem fazer "acordos" sobre seus desejos e fantasias
 


LITZA MATTOS (Jornal O TEMPO)
A arte imita a vida ou a vida imita a arte? No caso das relações sexuais, a escritora e publicitária inglesa Cindy Gallop começou a perceber, em seus relacionamentos, que havia, por parte dos homens, o desejo recorrente de reproduzir uma performance sexual muito semelhante à dos filmes pornográficos.

Ela decidiu, então, criar o movimento Make Love Not Porn (Faça Amor, Não Faça Pornô), para alertar sobre a pornografia machista que circula nos vídeos de sexo, e adotou o movimento como a sua principal atividade.

"Make Love Not Porn não é uma campanha antipornografia. A questão que quero tratar não é o pornô em si, mas, sim, a completa ausência, em nossa sociedade, de um diálogo aberto e claro sobre o sexo e o pornô. Tudo o que eu quero com essa campanha é que as pessoas falem sobre a sexualidade de uma forma aberta e saudável", explica Cindy.

A design Mohara Magalhães, 24, concorda que, em muitas situações, os filmes mostram a relação de forma falsa. "O sexo anal, por exemplo, nos filmes é colocado como uma situação simples e confortável. Além disso, os vídeos pornográficos sempre mostram os homens extremamente peludos ou depilados. Algo não muito comum há algum tempo e que nem todas as mulheres gostam, mas que eles têm copiado", afirma.

A design conta que gosta de trazer para a ‘vida real’ algumas situações em que ela e o namorado, o bancário João Guilherme Nogueira, 20, costumam ver nos filmes pornô. "Sempre buscamos levar as situações da maneira mais divertida possível e, quando acontece algo desconfortável, na mesma hora, conversamos e combinamos de tentar de outra forma", conta.

Mohara acredita que essa é a melhor forma de lidar com o assunto, uma vez que esse já é um tema norteado de preconceitos. "Se não o deixarmos mais ‘leve’, pode acabar virando um obstáculo para a relação", afirma.

O casal não mede esforços para tentar realizar as suas fantasias. "Já testamos um masoquismo leve, chamar o parceiro por alguns termos usados nos filmes e lugares diferentes como em um campo de futebol em uma cidade do interior à noite", diz a design.

As namoradas Fernanda e Camila (nomes fictícios), 24 e 22, contam que, no caso dos vídeos "lésbicos", os filmes também são totalmente fora da realidade. "De fato, são mais para satisfazer a imaginação do homem que adora ver duas mulheres se tocando", comenta.

Educação. A atriz Débora Vieira, uma das articuladoras da Marcha das Vadias, acredita que não é proibindo a indústria pornográfica que o "problema" será resolvido. "Se esse artifício virou uma das principais vias de educação sexual, atribuo à falta de opção, não porque seja melhor, mas por estar cada vez mais disponível, se tornou uma referência", diz.

A Marcha das Vadias é um movimento internacional de mobilização contra a violência de gênero e a visão das mulheres como um objeto, a partir da roupa que vestem, por exemplo.

Débora diz que, em seus relacionamentos, não percebe essas atitudes tão predominantes no comportamento do parceiro. "A pornografia é só mais um elemento desse cenário, parte da engrenagem, mas que não se move por si só. Falta educação sexual em casa e na escola", reclama.

 

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